Jessica
Brandao da Silva[1]
RESUMO
Os
contos de fadas eram inicialmente, antes do século XVII, contos de tradição
oral, que buscava de forma dispersa, elementos ao mito, as tradições
religiosas, a simbólicas de vários tipos, à literatura antiga, à medieval. Os
franceses criaram o conto de fada, que emergiu de uma tradição erudita, que
ganha força com contadores como Charles Pernalt, que os recolhia e a partir da
tradição oral, os reescrevia, com a ajuda da imprensa que logo surgiu junto à
crescente alfabetização. Deixou assim de ser apenas tradição oral cultivada
para ser cultura elaborada.
Nos
contos de tradição oral européia há dois tipos de componentes: um puramente
oral, que tem haver com elementos locais que são fantasiados e contados como
histórias fabulosas, de pasmar. E outro, com as narrativas populares autônomas,
nem sempre ligadas à realidade ao que se conta de forma efabulada. A tradição
oral popular portuguesa é constituída por narrativas curtas, muitas vezes
cruas, pragmáticas, despojadas do elemento feérico, profundamente mágico.
Os
contos de Grimm ou de Andersen têm personagens montado com o universo do conto
português, com coisas espantosas, almas, coisas do imaginário popular
português. São personificações das fantasias e medos das aldeias. Nas culturas
africanas e latino-americana, onde seu conteúdo simbólico, arquetípico, é muito
forte, porque esses contos normalmente são versões populares de problemáticas
de caráter religioso, iniciático e filosófico.
Embora
as pessoas confundam conto de fadas com fábulas, estes têm suas
particularidades e diferenças, que precisam ser esclarecidas. A fábula tem uma
moral da história, que propõe uma descoberta ética. Ela vem também de uma
tradição oral portuguesa de querer ser educativa, para veicular uma moral, um
comportamento social. O conto, diferentemente não precisa de uma moral para a
história, ele propõe uma descoberta ética, sem uma problemática. É algo mágico,
fabuloso, no qual remete uma realidade paralela, uma realidade criativa e
paradoxal dos nossos sonhos.
Os
contos não são específico para crianças, embora tenha um elemento mais sedutor
para as mesmas, devido à proximidade de seu imaginário. Para os adultos é uma
forma também de racionalizar um significado nas suas relações sociais, da forma
como se sente e pensa. Eles nos permitem um entendimento a cerca da liberdade,
para nos proporcionar uma inquietação quanto às coisas que são erradas e que
precisam ser mudadas, para deixarmos o conformismo e acreditar que as coisas
podem ser diferentes e que nem sempre são o que parece.
Quando
se conta um conto de fadas, a narrativa provoca efeitos nas crianças. As
narrativas confrontam a criança com dualidades: o ódio e a compaixão, a mentira
e a verdade. Mas o conto de fadas não diz o que é mentira ou verdade, é a
criança que tem de lidar livremente com esse material.
Não
se devem caramelizar os contos: omitir a crueldade, o amor, a morte. São
experiências fundamentais para a criança. Através dele as crianças aprendem a
lidar com a morte como experiência, com o fim das coisas, perceber que a
realidade muda continuamente e que é possível de lidar. Os contos de fadas têm
a ver com todos esses desafios, tratam arquétipos do crescimento: o medo, o
conforto, a superação. O herói da história tem de arranjar soluções para tudo e
a criança descobre possibilidades de enfrentar seu medo como algo natural.
Assim,
um conto de fadas nunca deveria ser lido. O adulto deve aprender o conto e
depois contá-lo, de viva voz para torná-lo mais interessante. Sendo de extrema
importância a disponibilidade do adulto para contar a história para as crianças,
pois acontece uma mutua disponibilidade das partes, e é nesse momento feérico
em que tudo é possível, em que as coisas abstratas, mais medonhas, mais
terríveis, podem encontrar soluções. Então, para os pais é interessante fazer
com que a criança recrie a narrativa do que dar-lhe como uma coisa estática,
que lhe impossibilita criar.
Viver com as fadas. Entrevista com Vítor Quelhas
ResponderExcluirNotícias Magazine (11 de Abril de 2004)
Texto de Sofia Barrocas.
Texto que através dos contos de fadas faz com que os problemas e inquietações de uma sociedade sejam percebidos, com a intenção de formar cidadãos a par da realidade e transformá-la.
Um texto muito bom! Leiam na sua íntegra.
Um beijo a todos e obrigada pela visita.