Artigo da Revista Nova Escola aborda a Literatura Infantil
Fraldas e livros: a importância da leitura para a primeira infância
Acredite: não é perda de tempo ler para quem ainda nem aprendeu a falar. Conheça seis projetos de estímulo à leitura voltados para crianças de até 3 anos
Julia Priolli (novaescola@atleitor.com.br), colaborou Carol Salles
Pequenos se divertem com
livros-brinquedos na UME Doutor Luiz Lopes, em Santos, SP: projeto de
leitura no berçário causou espanto no início, mas acabou sendo premiado.
Foto: Kriz Knack
Quando a escritora de livros infantis Tatiana Belinky perguntou ao
pediatra, nos idos de 1940, em que momento deveria começar a educar seu
filho, então com 3 meses de vida, ouviu como resposta: "Você já está
atrasada". Parece mera frase de efeito. O fato, porém, é que o doutor
estava coberto de razão. Não há idade para dar início à educação de uma
criança - e isso vale também para o incentivo à leitura.
Bebês podem até não entender todo o enredo de uma história, mas a
leitura em voz alta os coloca em contato com outras dimensões das
linguagens oral e escrita, que serão importantes em seu desenvolvimento.
"Eles percebem que a fala do dia a dia é diferente daquela usada numa
leitura, que tem cadência, ritmo e emoção. Entendem, por exemplo, que há
um começo, um clímax e um desfecho", explica Fraulein Vidigal de Paula,
doutora em Psicologia Escolar.
Especialistas acreditam que, para alguém se interessar por livros na
vida adulta, é fundamental que a palavra escrita esteja ao seu alcance
desde cedo. Ou seja: estimular a leitura dentro do berçário, com bebês
que ainda nem aprenderam a falar, pode ser o caminho mais curto para a
formação de um futuro leitor. "Manuseando um livro, eles são capazes de
identificar a existência da grafia e passam a estabelecer uma relação
direta com a linguagem escrita", afirma Fraulein. Pouco importa se a
criança ainda não aprendeu a ler ou se o exemplar em questão é feito de
papel, plástico ou tecido.
É verdade que leitura para bebês pode assustar até professores. Foi o
que descobriu a pedagoga Cláudia Leão, de Santos, no litoral de São
Paulo. Em 2002, durante uma reunião com educadoras do berçário onde
trabalhava, Cláudia propôs uma atividade de leitura. A ideia foi
recebida com espanto e até um pouco de desdém. Mas Cláudia bateu o pé e,
da sua teimosia, nasceu o projeto Leitura no Berçário! Por Que Não?.
Àquela altura, a pedagoga não fazia ideia do que ainda estava por vir.
Cinco anos mais tarde, em 2007, seu trabalho seria amplamente
reconhecido e ela receberia um prêmio do Programa Nacional de Incentivo à
Leitura (Proler).
Para despertar a paixão pelos livros nos pequenos da UME Doutor Luiz Lopes, Cláudia usou uma estratégia muito simples: ela criou livros feitos de pano e feltro que têm, em todas as páginas, desenhos de bichos e fotos de cada um dos bebês, lado a lado, como se fossem personagens de uma história. Quando a criança se reconhece, ao virar uma página e encontrar a própria foto, ela se levanta e escolhe outro livro, trazendo-o de volta à roda de leitura para dar continuidade à brincadeira. "Mecanismos desse tipo levam-na a perceber que entre ela e o livro há uma distância mínima", diz Cláudia. Conforme crescem, tornam-se elas mesmas as contadoras de histórias.
Para despertar a paixão pelos livros nos pequenos da UME Doutor Luiz Lopes, Cláudia usou uma estratégia muito simples: ela criou livros feitos de pano e feltro que têm, em todas as páginas, desenhos de bichos e fotos de cada um dos bebês, lado a lado, como se fossem personagens de uma história. Quando a criança se reconhece, ao virar uma página e encontrar a própria foto, ela se levanta e escolhe outro livro, trazendo-o de volta à roda de leitura para dar continuidade à brincadeira. "Mecanismos desse tipo levam-na a perceber que entre ela e o livro há uma distância mínima", diz Cláudia. Conforme crescem, tornam-se elas mesmas as contadoras de histórias.
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