RESUMO
Os
contos de fadas eram inicialmente, antes do século XVII, contos de tradição
oral, que buscava de forma dispersa, elementos ao mito, as tradições
religiosas, a simbólicas de vários tipos, à literatura antiga, à medieval. Os
franceses criaram o conto de fada, que emergiu de uma tradição erudita, que
ganha força com contadores como Charles Pernalt, que os recolhia e a partir da
tradição oral, os reescrevia, com a ajuda da imprensa que logo surgiu junto à
crescente alfabetização. Deixou assim de ser apenas tradição oral cultivada
para ser cultura elaborada.
Nos
contos de tradição oral européia há dois tipos de componentes: um puramente
oral, que tem haver com elementos locais que são fantasiados e contados como
histórias fabulosas, de pasmar. E outro, com as narrativas populares autônomas,
nem sempre ligadas à realidade ao que se conta de forma efabulada. A tradição
oral popular portuguesa é constituída por narrativas curtas, muitas vezes
cruas, pragmáticas, despojadas do elemento feérico, profundamente mágico.
Os
contos de Grimm ou de Andersen têm personagens montado com o universo do conto
português, com coisas espantosas, almas, coisas do imaginário popular
português. São personificações das fantasias e medos das aldeias. Nas culturas
africanas e latino-americana, onde seu conteúdo simbólico, arquetípico, é muito
forte, porque esses contos normalmente são versões populares de problemáticas
de caráter religioso, iniciático e filosófico.
Embora
as pessoas confundam conto de fadas com fábulas, estes têm suas
particularidades e diferenças, que precisam ser esclarecidas. A fábula tem uma
moral da história, que propõe uma descoberta ética. Ela vem também de uma
tradição oral portuguesa de querer ser educativa, para veicular uma moral, um
comportamento social. O conto, diferentemente não precisa de uma moral para a
história, ele propõe uma descoberta ética, sem uma problemática. É algo mágico,
fabuloso, no qual remete uma realidade paralela, uma realidade criativa e
paradoxal dos nossos sonhos.
Os
contos não são específico para crianças, embora tenha um elemento mais sedutor
para as mesmas, devido à proximidade de seu imaginário. Para os adultos é uma
forma também de racionalizar um significado nas suas relações sociais, da forma
como se sente e pensa. Eles nos permitem um entendimento a cerca da liberdade,
para nos proporcionar uma inquietação quanto às coisas que são erradas e que
precisam ser mudadas, para deixarmos o conformismo e acreditar que as coisas
podem ser diferentes e que nem sempre são o que parece.
Quando
se conta um conto de fadas, a narrativa provoca efeitos nas crianças. As
narrativas confrontam a criança com dualidades: o ódio e a compaixão, a mentira
e a verdade. Mas o conto de fadas não diz o que é mentira ou verdade, é a
criança que tem de lidar livremente com esse material.
Não
se devem caramelizar os contos: omitir a crueldade, o amor, a morte. São
experiências fundamentais para a criança. Através dele as crianças aprendem a
lidar com a morte como experiência, com o fim das coisas, perceber que a
realidade muda continuamente e que é possível de lidar. Os contos de fadas têm
a ver com todos esses desafios, tratam arquétipos do crescimento: o medo, o
conforto, a superação. O herói da história tem de arranjar soluções para tudo e
a criança descobre possibilidades de enfrentar seu medo como algo natural.
Assim,
um conto de fadas nunca deveria ser lido. O adulto deve aprender o conto e
depois contá-lo, de viva voz para torná-lo mais interessante. Sendo de extrema
importância a disponibilidade do adulto para contar a história para as crianças,
pois acontece uma mutua disponibilidade das partes, e é nesse momento feérico
em que tudo é possível, em que as coisas abstratas, mais medonhas, mais
terríveis, podem encontrar soluções. Então, para os pais é interessante fazer
com que a criança recrie a narrativa do que dar-lhe como uma coisa estática,
que lhe impossibilita criar.